sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

LUA E SOL


(Foto Bela L. Molnar)

Anoiteço mais um dia... E na noite tão fria, não sinto teu calor costumeiro... Lembro-me quando, às tardes, ao longe, admirava-te, luminoso, espalhando uma doce e revigorante energia que preenchia toda a casa. Bons tempos...Teu sorriso; mil sóis enigmáticos. Quanto
encanto!

Em miragem, tu adentras pelo quarto e a fria noite, constrangida, vai-se embora. Um calor intenso povoa nossa cama. Entre os lençóis embolados, ouço de ti declarações indizíveis. Embalada nesse enlevo, sinto-me revivida. Por um segundo eu supus ser realidade. Mas... Ao abrir os olhos, a cama fria, intocada, denuncia a ilusão. Por fatos tão banais tu partistes.

E eu aqui, gélida como a lua, anoitecendo a cada dia frio, sonhando acordada, na esperança de reaver o brilho do teu sol...


Lena Ferreira-2009

CORDA BAMBA


(Foto Google Search)

Ínfimo é o espaço
de um pé ante o outro,
cambaleante sobre
o fio da dúvida.


Não consigo andar

nessa retidão fatídica
sem me arremessar
aos barrancos do flanco.

É de outro que preciso,
o caminho ao lado,
o não escolhido.

Porque na minha boca
fica sempre o gosto
do pedaço que não provei.

Malu Sant'Anna

DE DÉU EM DÉU

De Déu em Déu
(foto Graça Loureiro)

Eu pergunto à estrela noturna;
- O que você faz aí ao léu?
E ela responde: - Não sei.
Sei que a noite é mistério
Cujos sinais eu quero decifrar.
Você já ouviu os ruídos da noite?
Você já ouviu os silêncios da noite?
Você já voou nos braços da noite?
Você já mergulhou a noite?
As estrelas me acompanham
e enfeitam o meu caminho.
São amigas, companheiras.
Nos seus passos cadencio os meus
E a Estrela Guia é só sabedoria
de quem muito viveu
que alimenta e sacia.
A madrugada me aconchega
em seu colo
E eu percorro a via dos sonhos
E descubro gozos impossíveis
E me embalo nas ondas de luz.
A aurora me despe
e nua me recolho
e a aguardo outra véspera
e assim eu vivo: de Déu em Déu.
Gleidi Campos

NUM QUASE DESABAFO

Num quase desabafo

(foto Vasco A. - Deixo-vos a pensar...)


Tenho um grito contido na garganta
- está lá, na base da língua – prontinho...
mas não sai!
É como um quase grito,
um quase gozo,
um quase...
Desfeita,
estou pelo caminho,
aos pedaços de um eu,
como pás de areia molhada.
Seca
serei mais como o chão
ou melhor, serei as ondulações do chão,
oscilações...
N’alma, parasitada, estão as dúvidas
do que me fizeram conter o grito.


Miss T.

TENHO SEDE...

Tenho sede...
(Foto Victor Melo)


E toda a água do mundo não mata minha sede.


Ouço um chamado.


Como ecos na escuridão, não sei de onde vem.


O coração silencia, sobrevivo amorfa.


Através do espelho vejo teus olhos que me olham.


No limiar entre o sonho e a realidade, teus abraços me envolvem.


E satisfaço minha sede com brumas,
atendo ao chamado na penumbra,
me aqueço no calor do teu corpo ausente,
beijo incansavelmente meu próprio desejo.


Rose Chiossi

VOLTAS E TROPEÇOS

Voltas e Tropeços

(Foto Jingna Zhang)


Andei pelos apertos
cortei-me pelas ruas serrilhadas
que como navalhas tiraram meus
calçados e calejaram meus pés.

Não havia pedras,
Nem lugar onde se assentar,
Apenas espinhos e ao redor
Um imenso mar.

Havia diante de mim,
onde a vista podia alcançar
a esperança do sofrimento enfim
um dia terminar.

Reclamei e não olhava para trás,
esqueci de olhar-me ao espelho
e não percebi que o que almejava
estava perto de me alcançar.

Bastava apenas me assentar,
basta apenas parar.

Mari's Schurr

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

DGTV 2

DGTV 2


Perdida no espaço
nesta trança de aço
que eu mesma teci..
Sua fala me deixa
inconstante...
Sua presença me incomoda


sua indiferença ,
é um gelo que queima...
A discriminação opaca
se torna um drama
Vestida neste seu
Psic(o)drama...
Gleidi Campos

ÁCIDOS

Ácidos
(Foto Paulo Rebelo Loriente)

Vi entre espíritos de sal
meus pés enferrujados
tornarem-se puros. Em
minha alquimia fiz-me ouro
e digna. Água régia lavou-me
e levando-me ao delírio não
mais precisei de aprovação,
misturas ou soluções mágicas.
Das masmorras, liberta.
Miss T.

ZERANDO OS CONTADORES

Zerando os Contadores
(Foto Paulo Franco)

Um segundo estrondoso
que me valha insistir...
Qual navalha
que à carne serve
verve ao despertar.
Sou magnólia tocada pelo vento,
esquife da minha agonia
à espera do jardineiro
para enfim poder sorrir.
Não, ainda não
estou pronta para desistir.
Ainda tenho escroto
mesmo tendo sido
castrada ao renascer,
ao me parir fêmea,
minha mãe.
Tenho nas mãos
atadas pela cinesia
intermitente da vida
a chave do tempo.
Meu tempo.
Descobrir...
Malu Sant'Anna

DESEJO AO EXTREMO

Desejo ao Extremo
(Foto Duarte S.)

De repente meu quarto fica pequeno,
As paredes se comprimem em minha direção,
O dia amanhece mas ainda é escuro,
E as lâmpadas da rua estão acesas.

Tive um sonho ruim de desespero,
Onde ouvia tua voz distante a me chamar,
Acordei de sobressalto sentindo teu cheiro
E o calor do teu corpo ardendo em febre.

Senti teu suor e um suspiro, o teu chamado
Estava no ar e quis te abraçar, meu travesseiro
Era o teu corpo, e o teu cheiro meu perfume,
Teu calor era o meu e a febre, intenso desejo.

Ligo o chuveiro e a água quente, o teu toque
Que desliza pelo meu corpo e se arrepia
Sentindo teu corpo por fora e por dentro,
Deslizando sobre mim, ágil como sabonete.

Quero inteiro, todo e ao máximo,
Que tome para si toda minha doçura,
A maciez e calor que te ofereço,
Imploro: toma-me por sua.
Rose Chiossi 07/08/2008

POEMA DE TARJA PRETA

Poema da Tarja Preta
(foto Daniel Coelho)

Traço apressados rabiscos
Tremendo; temendo riscos,
Dos psicotrópicos, o efeito:
Trazerem-me à razão!

Deixem-me voar mais um pouco
Solta; sem correntes arco-íris
Multiformes e amargas

Não quero tocar no chão agora...
Aviso, eu juro, quando for a hora!

(Quero por mais um segundo
Ser sem preciso estar...)

Deixa-me ao menos concluir este rabisco?

Lena Ferreira-2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A INCRÍVEL HISTÓRIA DA FORMA DE BARRO

A incrível História da Forma de Barro
(Foto Google Search)


Maria, quando criança, em uma das viagens de férias da família, passou em uma pequena loja à beira da estrada estadual que nunca lhe saiu da cabeça. Hoje aos 37 anos lembra bem de todos os detalhes: dos tapetes de peles de boi e ovelhas, das tapeçarias, prataria, conservas de todos os tipo e cores, licores, artigos de churrasco, cachaça de alambique, queijos coloniais, doces em tabletes e compotas, peças de madeira entalhadas e cestaria. Lembra de tudo com tanta particularidade, lembra do cheiro, do pó nos enfeites, da senhora sentada num banquinho no canto da porta e a seus pés vários potes e tigelas de barro, pelo menos eram o que pareciam.

Lembra também de sua mãe, curiosa, perguntando tudo, queria saber pra que servia cada peça exposta naquela pequeno espaço, até que por fim se ateve as peças acomodadas aos pés da velha senhora.
_ Pra que servem essas peças, são vasos de flores? - perguntou a mãe de Maria.
_ Não senhora, são panelas e formas de barro, servem para cozinhar, são muito especiais. - respondeu a senhora

A mãe de Maria não acreditou, afinal cozinhar em barro, sim pois era isso que era afinal, barro seco, não interessa como era feito, barro é sujeira. Não quis desfazer da senhora, afinal ela tinha idade, e aprendera a respeitar os mais velhos, mas pra panelas aquilo não servia. Muito contrariada levou uma forma já que Maria encantada com aquilo, dizia que queria provar uma comida feita ali. A tigela tinha uns 25 cm de diâmetro e uns 15 cm de altura, a mãe de Maria já pensava no que por dentro da vasilha e Maria sonhava com o banquete a ser feito naquela forma.

Bom, anos se passaram, a mãe de Maria nunca fez nada com aquela forma, apesar das investidas da filha, chegou a esconder para que não voltasse a perguntar. Até que dias antes de se casar Maria a encontrou no fundo de um armário pouco usado pela família, pegou-o e colocou junto com suas coisas que iam para sua casa nova. Deixando por muito tempo guardado, não sabia exatamente como usá-la.
Pesquisou, revirou receitas antigas, e finalmente descobriu como usar a forma de barro, comprou os ingredientes, convidou os familiares, seria um evento especial, finalmente provaria a comida feita na forma, tão sonhada, tão presente em sua infância.
Tudo estava pronto, mesa posta, família reunida, flores, bebidas, risos das crianças correndo, brincando, conversas dos adultos empolgados querendo saber o motivo da festa, o porque de estarem reunidos fora de data festiva. Finalmente Maria entra na sala de jantar com a forma nas mãos, sorridente que só ela, sua mãe ficou de olhos arregalados.
Todos sentaram-se a mesa, serviram-se, e deliciaram-se com cada iguaria preparada, e provaram o prato especial feito na forma de barro. Maria à cabeceira da mesa, olhava satisfeita para todos. Percebeu enfim porque os utensílios de barro são tão especiais, unem as pessoas, deixam a todos felizes, compartilhando os sentimentos bons.
Miss T.

EMBARCO

Embarco
(Foto Rui Bento Alves)

Rumo ao desconhecido, ao imaginário futuro,
incerto... mas que por certo serei bem recebida.
Em terras estranhas, um mundo diferente,
quantas promessas essa nova vida me traz.
Embarco nesta nave gigante
que atravessa os sete mares,
errante navegante,
enfrento tempestades.
Eu vejo... lá no fim,
na linha do horizonte...
a terra prometida.
Assim que meu pé toca o solo,
sustentando as pernas ainda trêmulas,
deixo para trás minha vida passada,
decidida a esquecê-la inteiramente.
Sacudo o pó que o vento leva para alto-mar,
olho ainda uma vez mais e pela última vez,
me despeço do que fui e de tudo que representei
a mim mesma.

Rose Chiossi 04/02/09

MUDA

Muda
(Foto A. Brito)

Lancei à força plena
o corpo cansado
contra os rochedos
cobertos de cracas.


A pele surrada
pela fuligem do caminho,
soltou-se aos poucos
do apego humano
à carne que continha...


E fiquei assim,
por dias, carne viva,
à flor de minhas culpas.


O sal, do mar, de mim,
em sua inerente assepsia,
permitiu-me a muda
e enfim, recobri-me:


Nova!


Malu Sant'Anna

QUERIA FALAR...

Queria Falar (Foto Luís Lobo Henriques)

Apago a luz. Deixo-me envolver pelo luar que me chega pelo vidro da janela. Fico sossegada, a ver pontos brilhantes no céu. Estrelas… tantas. Tão distantes e mesmo assim, mesmo assim, parece que basta colocar-me nas pontas dos pés para roubar uma que dê brilho ao meu olhar.
Assim no escuro, só quero deixar de sentir. Adormecer como que embalada nas asas de anjo e ao acordar, que tudo fosse diferente. Conseguir perder-me em corpos estranhos nas noites perdidas que sucedem os dias, sem sentir depois, um travo amargo na boca, a errado. Abrir de vez as portas que mantenho entreabertas há tempo demais. Pelo medo de tentar e perder, pelo medo de arriscar, ao mesmo tempo que vem cá de dentro algo inexplicável que me diz para ir, para não ter medo de perder o pé, para saltar e deixar-me cair. Escancarar o peito e gritar o que sou. Sem pensar que fico exposta, delicada ou carente.
Esta noite não quero uma música que toca baixinho, que põe à prova os meus sentidos. Desligo o telefone porque não quero ouvir a voz dos outros. Não quero água quente em banhos demorados, nem luz de velas, nem desejos satânicos a povoarem-me os pensamentos. Não quero um café nem livros no regaço. Não quero nada mais além de mim, não quero outras histórias, outras vozes nem outras vidas.
E deixo-me ficar assim, ouvindo de quando em vez os sons dos bichos noturnos. Quieta. Também eu animal da noite.Quero silêncio. Para me ouvir. Para assimilar os dias intensos e perceber o que sinto. Para entender, ou simplesmente aceitar. Talvez, quem sabe assim, no silêncio, possa escutar o que o coração me grita desalmadamente, sem sossego…
Queria dizer talvez, que tenho a vida presa nas mãos vazias. Que amanhã não estarei aqui e tudo ficará num lugar escuro, como se nunca nada tivesse existido antes. Tudo o que sonhei, o que desejei e o que vivi. Resumido a nada.E nesta vida à qual me agarro, há horas em que nada posso fazer. Como se nenhum gesto houvesse para mudar o rumo das coisas, percorrendo o mundo fingindo que navego. E de repente sou vagabundo, rei num palácio de cristal. Uma vida tão cheia, sentindo-me eu tão cheia de nada. Aceitando quando os outros decidem essa vida por mim.
A revoltar-me quando me dizem que o que tiver que ser, será. Como se existisse um destino cruel que me obrigasse, de um lugar que não alcanço, a viver em função da sua vontade. E cá dentro, não aceito. Não quero isso para mim. Eu posso escolher… mesmo que muitas vezes as minhas escolhas passem pelas escolhas dos outros. Falar de quando me sinto errada e perdedora, quando nada bate certo.E as horas em que aceito a vida assim, conformada, quando só me apetece gritar-lhe, contrariar o mundo, revoltada, e dizer-lhe que não, que não é bem assim. Dizer-lhe que eu sou capaz, que a vontade faz metade do caminho, que é possível. Mas olho ao redor. E afinal, estou sozinha. Já nada fica tão simples …
Queria falar das horas em que amarro a vontade de chorar. Que sinto um nó na garganta, um aperto no estômago que sufoca, como uma angustia que mói devagar. Ou falar de quando me rendo às lágrimas, vencida. Dizer que muitas vezes choro por me sentir feliz e outras rio com uma vontade que me rebenta por dentro, de chorar.
Queria falar do que sou. Daquilo que vai além do que os olhos do mundo conseguem alcançar. Que sou mar revolto em dias de tempestade, mar calmo que apazigua o peito, que sou palavras e imensidão. Que estou viva e envolvo as mãos na terra onde planto girassóis para depois pintar na janela o sorriso da alma.
Queria falar das crianças que não tive, desse amor que não dei, que não conheço, que não sei como é. Desse amor maior, que nada espera. Dizer que não construí um lar recheado de cumplicidade porque não me foi permitido. Que sou anjo ferido na asa, que não posso voar.
Queria falar da coragem que carrego algures e por vezes não sei onde está. Ou das horas de fraqueza, quando dou por mim a seguir caminhos por onde quero, mas não devo ir.Queria falar das coisas grandes que trago em mim. Das boas e das outras… de tudo aquilo que por ser maior não se pode quantificar. As coisas que sinto, apenas porque sim. Sem motivo, sem razão.
Queria falar da solidão que carrego, por sentir que me faz falta a outra metade de mim. Ou apenas dizer que há momentos em que o tempo me prova que não volta atrás e que eu já nem sequer quero seguir em frente. Porque me vejo em encruzilhadas sem saídas que não me deixam escolher. Das horas em que não é tanto assim, que não estou só, que se estou, me habituei. E deixo de pensar nisso.Queria falar das oportunidades que me recusaram, que eu recusei, e das outras, que neguei. Falar dos momentos em que só desejo outra chance da vida para voltar atrás e quem sabe, fazer tudo outra vez. Re-fazer. Re-sentir. Re-viver. Mas na plenitude, no melhor daquilo que posso ser.
Queria falar de todos os amores que carrego no peito. Dos que senti sem viver, dos que podiam ter sido e não foram, das esperas onde me vi esquecida. Dos amores grandes e dos encantos. Dos arrebatadores que nos levam a alma e dos envoltos em algodão doce. Das saudades que sinto de todos os amores que ainda não vivi. Dos que não vivi porque não me permitiram, dos que desisti por me obrigarem a deixá-los partir. Dos amores que morreram à nascença, dos amores com um fim determinado, antes ainda de existirem. Dos que não se tentaram, dos que ficaram no escuro de quartos de hotel que nunca viveram a luz, que ficaram nas sombras. E na memória. Dos homens que nunca consegui amar, dos que nunca consegui que me amassem. Dos que amei e perdi. Dizer baixinho, no silêncio, que a linha que separa o querer bem do querer demais, é tênue.
Queria falar que sou pássaro que voa solto para lugar nenhum. Que o meu coração é triste, mas livre e que o meu olhar não pertence a ninguém. Da liberdade que sinto e não sei o que quer dizer, nem o que fazer com ela. Das horas que estendo as asas ao vento e plano lá no alto do mundo, misturada no azul altivo do céu, mergulhando no profundo azul do mar. E falar das outras horas em que sou apenas uma alga sozinha e esquecida, perdida na orla da praia depois que baixa a maré.
Queria falar de quando sou jangada à deriva no alto mar, quando o céu é negro de nuvens carregadas. Quando as ondas me ameaçam derrubar e eu, sem bússola nem porto seguro, me deixo ir. Agarrando-me àquilo que sou, cá por dentro, acreditando que a vida não pode ser só isto. Que a tempestade, irá passar.
Queria falar dos muros que o medo constrói em torno de mim, das amarras indeléveis que me prendem. E das muralhas em torno dos outros, das quais me sinto refém, mesmo estando do lado livre da barreira intransponível. Falar dos nós e dos laços que nem sempre nos deixam voar, que vivemos entrelaçados como braços que nos agarram e não nos deixam soltar. Os nós do medo… que nos aprisionam e sem darmos conta, prendem os outros que já se sentem prontos a voar.
Queria falar das coisas grandes que não me cabem no peito. Falar que estou confusa e triste… que faço mantas de retalhos de memórias numa forma vã de não chorar. Queria falar de coisas que não se dizem, mesmo querendo. Do que é imenso e não existem as palavras certas para explicar. Porque as coisas grandes exigem palavras ainda maiores, e são pequenas as que conheço.
Queria falar mas não o faço. Fico no silêncio a ouvir o que tenho a dizer, a escutar-me. A procurar-me. A tentar perceber onde me perdi.Queria falar, mas nada tenho a dizer. Não tenho voz nem vontade. Não encontro as palavras que perdi. E cansada, acabo por desistir.
Juro que queria falar… de amor e de tudo que é sublime… mas não sou capaz.

Gleidi /08

A MINHA DOR DE AMOR.

A Minha Dor de Amor

(Foto Victor Melo)

Dói.

Crava e corta como lâmina de aço
Afiada como uma língua ferina, má
Talha e sangra todo o ambiente
Deprimente; roupas fora do lugar.
Dói
Respinga por todo o quarto
Maculando nossa cama
Registrando o duro fato
Imprimindo o meu fracasso
Conturbando minha visão.
Dói
E como gotas lenitivas
Bebo meu próprio sangue
Envenenando de vez o corpo
Pois a alma...já se foi....

Lena Ferreira-27/01/09